Tendo em vista a diferença entre virtude natural e sobrenatural para Tomás de Aquino e relevância desta para a ética, veremos em qual sentido, primeiramente, tal diferença ganha corpo na relação entre a moralidade e a bem-aventurança.
Aceitemos, pois, que tudo que é aspira por natureza à auto-conservação e perfeição, logo, o fim último do ser é a sua própria perfeição, i.e., a realização melhor possível de seu ser, de sua natureza. Se realizar o próprio ser é a expressão ontológica do fim último, a expressão ética seria a realização do supremo bem. Segundo Aristóteles, o bem é aquilo que todos apetecem. Ora, se a felicidade é o fim ao qual tende o apetite natural de todo ser vivo, então o fim último, o bem supremo, será a própria felicidade. Segundo Tomás, “o princípio primeiro no operativo, do que existe como razão prática, é o fim último. Mas o fim último da vida humana é a felicidade ou a beatitude (Suma Theol., II, 1, p. 90)”. Logo, temos que, para Tomás, perfeição, beatitude e felicidade coincidem, ou seja, são todos o bem supremo, o fim último. Em outros termo, podemos entender que o principio primeiro no operativo, i.e., eficiente, a causa primeira de nossa ação é o fim último da razão prática. O que conclui em fazer, assim o conclui a razão prática tendo em vista a felicidade; justamente tal conclusão é o início da ação, portanto, princípio motor da ação.
Todavia, a inclinação do homem para a felicidade não se realiza por completo nas coisas criadas, pois nelas se encontra apenas uma parte do bem. O conjunto de todos os bens se encontra em Deus, que acalma por completo esse anseio por ser feliz do homem. Deus, o bem perfeito acalma o apetite, pois não há mais nada além a desejar. Logo, o bem universal não se encontra em nada criado, mas apenas em Deus. E todos aqueles que se esforçaram para serem virtuosos, são gratificados com um sinal: a visão santificante de Deus, considerada como o fim transcendente da perfeição. Só os pecadores não podem ter tal visão. Assim, temos, por um lado, os beatos e, por outro, os maus. Os bons triunfam sobre os maus eternamente. Ou são gratificados com a bem-aventurança os bons, ou são condenados eternamente os maus. Desse modo, a bem-aventurança e a condenação eterna constituem o fim transcendente de ordem ética. Enfim, a única coisa que pode separar o homem de Deus definitivamente é o pecado mortal, e não os pecados mais leves, que apenas desviam o homem da direção fundamental de sua inspiração a Deus. Nas palavras de Tomás: “Assim como há uma vontade nos homens, assim há uma inclinação natural nas coisas naturais. Se, pois, de alguma coisa natural finda sua inclinação ao fim, não se pode, em absoluto, alcançar este fim; assim como um corpo pesado, se por corrupção perder sua gravidade e se converter em leve, não chegaria ao termo médio; mas se fora impedido em seu movimento, de modo que permaneça a sua inclinação ao fim, uma vez suprido o impedimento, ele chegará ao seu fim. E aquele que comete o pecado mortal, a inclinação da vontade se separa totalmente do fim último; enquanto que aquele que comete um pecado venial, nele permanece a intenção dirigida ao fim, mas de certo modo se encontra impedida, pelo fato de que se aproxima mais do que é devido as coisas que tendem para o fim. Portanto, aquele que comete pecado mortal, merece a pena de ser excluído em absoluto da consecução ao fim; enquanto que quem comete pecado venial, merece sofrer alguma dificuldade antes de chegar ao fim (C. Gentiles, III, c. 143)”.
BIBLIOGRAFIA
Material de Apoio
Matheus Venâncio, 2009 – UNIFRAN – Universidade de Franca
2.Semestre Graduação Filosofia
Estou a fazer pesquisa sobre ‘o homem enquanto ser em realização” gostaria que me fornecessem alguns.
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