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Archive for Janeiro, 2010

Por Joviano Caiado…

A Antístenes de Atenas, discípulo de Sócrates, é atribuída a fundação da escola clássica grega do cinismo.

Dizem que a palavra deriva do Ginásio Cinosarge, local onde Antístenes teria edificado sua Escola. Outros afirmam que ela deriva da palavra grega kŷőn, kynós: cães – ou viver como os animais.

Segundo consta a idéia para desenvolver a teoria cínica teria sido de Sócrates, que ao passar certa vez pelo mercado de Atenas teria constatado:

– Vejam de quantas coisas precisa o Ateniense para viver!

Antístenes ouviu as palavras do mestre e passou a vida a pensar.

Aqui – parênteses! – eu acho que na Grécia clássica havia um monte de gente sem qualquer conhecimento de qualquer coisa da vida. Qualquer coisa dita por pessoas com comportamento estranho passava a ser objeto de investigação e algo a ser pensado.

Ou melhor, comportamento estranho era sinal de algum tipo de genialidade. Lembrem-se que Sócrates era um andarilho, miserável, maltrapilho e, como já fiz referência em outra matéria, com alguns sinais de algum tipo de doença mental.

Pois bem! Antístenes passou a desenvolver a idéia que para alcançar a virtude moral, a felicidade plena, seria necessário dispensar todo o supérfluo, pois bastava ao homem viver com o que a natureza lhe oferecia, assim como viviam os animais.

Todos já perceberam que todas as religiões de todos os povos partem desse princípio: Despir-se das coisas terrenas. Alguns adeptos de algumas filosofias, que não chegam a ser uma religião, assim também pensavam. Como exemplo temos os hippies dos anos 60/70.

Um aluno de Antístenes – Diógenes de Sínope – um dos maiores malucos da história da filosofia – que eu acho que apresenta, assim como Sócrates, sinais de doença mental – levou a teoria ao seu limite maior: passou a viver como indigente.

Morava em um barril e se alimentava com o que as pessoas lhe davam. Vivia maltrapilho, sujo e provavelmente cheio de doenças.

Era visto constantemente se masturbando em público e quando lhe reprovavam o comportamento perguntava que mal havia em passar a mão sobre a barriga

Dizem que Alexandre, o Grande, um dia se aproximou dele e perguntou se precisava de alguma coisa. Diógenes disse-lhe que precisava que ele se afastasse para o lado porque estava encobrindo o sol que o aquecia.

Só dava maluco na época. A tal frase – desejo apenas que te afastes de meu sol – passou a ser objeto de profundos estudos e exemplo maior da teoria cínica, o desprendimento de coisas supérfluas.

Sócrates, Antístenes e Diógenes não deixaram qualquer coisa escrita.

Continuo achando que, cada um na sua época, era daquelas pessoas que perambulavam pelas cidades da Grécia, completamente doidos, assim como os profetas do oriente médio, os benzedores, adivinhos e pitonisas, até mesmo santos da igreja católica. Pessoas com estranhos comportamentos que acreditavam em mundos mágicos. As mitologias romana, grega, nórdica, e outras, estão cheias dessas figuras. Existiam deuses de todos os níveis e para todos os ambientes essenciais para a vida: ar, água, terra, alimento, guerra, paz, mar, rio, montanhas e florestas, até para o vinho!

A ignorância levava aos questionamentos básicos do pensamento humano: quem sou eu; o que é a felicidade; o que é a paz; o que é a bondade e a maldade; o que é a vida ou o que é a morte; existe vida após a morte; de onde viemos e para onde iremos; o céu e o inferno; os bons para cima e os maus para baixo, etc.

O ideal do cinismo é a autarquia.

Espantado? Pois é! autarquia era a condição ideal de auto-suficiência.

Na autarquia o homem tem o essencial para viver. Daí a definição de autarquia dos dias de hoje: serviço autônomo criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita própria, que executa atividades típicas da administração pública, mas com gestão administrativa e financeira descentralizada.

E o hipócrita? Ah! O hipócrita! O hipócrita é o duas caras. Isso mesmo. Os atores gregos usavam máscaras. Fingiam ser aquilo que não eram.

Nos dias de hoje o nosso amigo hipócrita está em todos os lugares. É aquele que deita pregação moral, mas no fundo é um canalha:

É, com raríssimas exceções, aquele político que fica publicamente indignado com a notícia de corrupção, mas apagados os holofotes e desligadas as câmeras, sai andando pesado e com as marcas de maços de dinheiro sob a calça, parecendo picado por inúmeros marimbondos.

Muitas vezes o cinismo deturpado como o conhecemos hoje, anda junto com a hipocrisia.

O hipócrita diz para todos que é um virtuoso, um exemplo de cidadão, excelente chefe de família e fiel marido, mas ao virar a esquina pega a amante e vai para o motel.

No flagrante, produção de sua mulher que invadiu o quarto do motel, ele diz com a maior cara de pau:

– Calma meu bem! Não é o que você está pensando! Ao sair do trabalho eu a vi atravessar a rua em frente ao meu carro. Ela caiu, passou mal e sem saber o que fazer eu a trouxe aqui para o motel para ela se refazer e poder ir para a casa.

A mulher responde:

– Além de hipócrita é um cínico… seu safado!

Lembra Diógenes de Sínope, que ao ser pego em flagrante se masturbando em público dizia que estava apenas passando a mão sobre a sua barriga?

Que cinismo!!!

E você, o que acha?

Dê sua opinião.

[]’s

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O conceito de Ética em Sócrates, Platão e Aristóteles

“Se imaginais que, matando homens, evitareis que alguém vos repreenda a má vida, estais enganados; essa não é uma forma de libertação, nem é inteiramente eficaz, nem honrosa; esta outra, sim, é mais honrosa e mais fácil: em vez de tampar a boca dos outros, preparar-se para ser o melhor possível.” (Palavras atribuídas a Sócrates por Platão, ao final do seu julgamento)

Introdução

Ascensão e queda da filosofia grega

Uma pergunta que irá ocorrer a qualquer um que estude a história da filosofia grega será porque ela atinge seu esplendor teórico justamente no momento de sua decadência material. Sócrates, Platão e Aristóteles vivem justamente no momento que a sociedade grega em geral, e a ateniense em particular, vive seu ponto mais baixo cuja culminação será a unificação e dominação dos helenos pelos macedônios de Filipe e Alexandre.

De uma forma geral eles vivem o momento de maior desagregação interna, de dominação da política pelos demagogos, pela decadência dos velhos modos de vida, da superação da riqueza intelectual pela material. Ainda assim refletem sobre as mais altas virtudes humanas e vêem a felicidade justamente na bondade, conceito que unifica as três noções de ética, ainda que divergindo sobre o significado da eudaimonia – a felicidade derivada da harmonia entre os componentes da alma.

Há um aspecto necessário a ser compreendido nesta noção dos três filósofos serem o canto do cisne da filosofia grega. Seus antecessores e adversários não são conhecidos a não ser por fragmentos, em geral recolhidos e comentados por seus detratores, assim não há como asseverar que Sócrates e seus dois discípulos sejam tão superiores aos que os antecederam.

A filosofia que antecede aos sofistas é marcada por uma compreensão da identidade entre ser humano e ser cidadão tão profunda que a hipótese de uma dissociação entre o bem individual e o bem comum sequer é formulada, é entendida como dado da realidade e premissa básica de qualquer reflexão sobre o ser humano. Da noção de um “Império da Lei” e não de reis, deuses e sacerdotes deriva a maior parte da originalidade do pensamento grego, ainda que raramente seja motivo da apreensão dos filósofos.

O que se busca então é no máximo mecanismos que possam aprimorar as leis, avaliar entre as possíveis alternativas qual seria a mais racional – portanto melhor – para a consecução deste Império da Lei. As primeiras reflexões de natureza ética que surgem neste período, especialmente Pitágoras, não visam senão ao esforço de avaliar como poderiam ser julgadas as alternativas postas de forma perfeitamente racional.

Mas o dinamismo da sociedade grega acaba trazendo em si um novo mundo que iria aos poucos se infiltrar no antigo, voltar contra si mesmos os princípios tanto da democracia quanto da filosofia. Este processo começa com os conflitos da crescente camada de comerciantes enriquecidos contra as velhas aristocracias – cuja base do poder era de um lado a tradição e de outro a propriedade fundiária – e termina com a ascensão dos tiranos – magnatas que se postulam defensores das camadas mais pobres da população.

Marco significativo neste processo será a constituição de um imperialismo ateniense disfarçado em aliança político-militar na chamada Liga de Delos, constituída inicialmente como estratégia defensiva contra a invasão persa, mas que os atenienses relutam em dissolver após a vitória contra os Aquemenidas. O domínio imperial de Atenas garante à cidade as fontes tanto de seu supremo desenvolvimento como o embrião da sua decadência.

Ao canalizar para a cidade vultoso volume de recursos, o imperialismo garante um esplendor em todas as artes. É o período dos grandes monumentos, do supremo desenvolvimento da escultura, da mais ampla extensão da democracia que chega à sofisticação de pagar uma contribuição a todos os cidadãos que compareçam às Assembléias, como absoluta garantia do direito a todos a participar das decisões da cidade. É também o momento no qual os sábios de todo o mundo helênico – da Ásia Menor à Calábria, então chamada de Magna Grécia – convergem à Atenas na busca tanto de um ambiente de efervescência cultural como de patronos, os mecenas.

Mas este crescimento tem um preço amargo a ser pago. O crescimento das desigualdades sociais gera crescentes conflitos, a extensão da democracia estimula o florescimento e domínio da demagogia, o necessidade de justificação do Imperialismo rompe com as velhas noções de Império da lei e igualdade dos homens. Por fim gera a reação dos dominados, liderados pela oligarquica cidade de Esparta que leva ao fim da Liga de Delos e a restauração – ainda que temporária – da oligarquia ateniense.

O fruto filosófico deste período atribulado são os sofistas, geralmente acusados de seus adversários de destacar o conhecimento de sua base moral, ensinando que qualquer discussão poderia ser vencida desde que utilizados os meios corretos. Ainda que esta visão possa ser mero exagero dos seus comentadores – e é a partir deles que os conhecemos – há uma certa lógica entre a evolução econômica e política dos gregos e a atribuição de “valor instrumental” ao velho conhecimento grego de natureza especulativa.

Independente das críticas aos sofistas serem tendenciosas ou honestas, há nelas um componente novo, inusitado, crítico: o relativismo moral. Da velha identidade entre a felicidade individual e o bem comum da sociedade grega se chegará, através dos sofistas, a uma situação na qual tanto o primeiro como o segundo tornam-se relativos, não universais ou divinamente inspirados.

O pensamento sofista não deixa de ser um ataque à hipocrisia ateniense no qual os velhos valores não são mais evocados senão como uma justificativa da dominação de Atenas sobre outros Estados, dos ricos demagogos sobre os velhos idéia da democracia, da escravidão e da plutocracia na qual a sociedade grega havia se transformado. A noção de “o homem é a medida de todas as coisas”, de Protágoras é sobretudo uma contestação da própria essência da legitimidade do Estado grego, firmada já não mais numa profunda consciência do Império da Lei, mas simplesmente em um amontoado de convenções sociais habilmente manipuladas pelos ricos.

O cerne desta estrutura de legitimação é trazida à luz por Trasimaco, para qual a justiça e outros conceitos derivados da lei não eram senão ferramentas para que os fortes submetesse e dominassem os fracos. Conceitos deste tipo iam contra todos valores da sociedade grega, transformavam o velho respeito ao “Império da lei” em mera hipocrisia, o velho sentimento de missão e superioridade gregos em vaga justificativa da escravidão. Eram, portanto, noções perigosas demais para não serem respondidas, ainda que a resposta não pudesse deixar de se tornar ela própria um tapa no rosto da hipocrisia dominante.

É nesse contexto de decadência e crise moral que os esforços intelectuais de Sócrates, Platão e Aristóteles devem ser entendidos. Quando se enxerga a questão por este prisma, o fato de Sócrates ter “inventado” a Ética revela não o surgimento de uma nova ordem, mas antes a necessidade de se refletir, sistematizar e defender conceitos que antes eram dados como automáticos, em especial quanto à essência da ética, ou seja, as relações entre o bem comum e a felicidade individual. (mais…)

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(Prof. Dr. Delamar José Volpato Dutra)

A Filosofia é um ramo do conhecimento que pode ser caracterizado de três modos: seja pelos conteúdos ou temas tratados, seja pela função que exerce na cultura, seja pela forma como trata tais temas. Com relação aos conteúdos, contemporaneamente, a Filosofia trata de conceitos tais como bem, beleza, justiça, verdade. Mas, nem sempre a Filosofia tratou de temas selecionados, como os indicados acima. No começo, na Grécia, a Filosofia tratava de todos os temas, já que até o séc. XIX não havia uma separação entre ciência e filosofia. Assim, na Grécia, a Filosofia incorporava todo o saber. No entanto, a Filosofia inaugurou um modo novo de tratamento dos temas a que passa a se dedicar, determinando uma mudança na forma de conhecimento do mundo até então vigente. Isto pode ser verificado a partir de uma análise da assim considerada primeira proposição filosófica.

Se dermos crédito a Nietzsche, a primeira proposição filosófica foi aquela enunciada por Tales, a saber, que a água é o princípio de todas as coisas [Aristóteles. Metafísica, I, 3].

Cabe perguntar o que haveria de filosófico na proposição de Tales. Muitos ensaiaram uma resposta a esta questão. Hegel, por exemplo, afirma: “com ela a Filosofia começa, porque através dela chega à consciência de que o um é a essência, o verdadeiro, o único que é em si e para si. Começa aqui um distanciar-se daquilo que é a nossa percepção sensível”. Segundo Hegel, o filosófico aqui é o encontro do universal, a água, ou seja, um único como verdadeiro. Nietzsche, por sua vez, afirma:

“a filosofia grega parece começar com uma idéia absurda, com a proposição: a água é a origem e a matiz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e, enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado de crisália [sic], está contido o pensamento: ‘Tudo é um’. A razão citada em primeiro lugar deixa Tales ainda em comunidade com os religiosos e supersticiosos, a segunda o tira dessa sociedade e no-lo mostra como investigador da natureza, mas, em virtude da terceira, Tales se torna o primeiro filósofo grego”.

O importante é a estrutura racional de tratamento das questões. Nietzsche analisa esse texto, não sem crítica, e remarca a violência tirânica como essa frase trata toda a empiria, mostrando que com essa frase se pode aprender como procedeu toda a filosofia, indo, sempre, para além da experiência.

A Filosofia representa, nessa perspectiva, a passagem do mito para o logos. No pensamento mítico, a natureza é possuída por forças anímicas. O homem, para dominar a natureza, apela a rituais apaziguadores. O homem, portanto, é uma vítima do processo, buscando dominar a natureza por um modo que não depende dele, já que esta é concebida como portadora de vontade. Por isso, essa passagem do mito à razão representa um passo emancipador, na medida em que libera o homem desse mundo mágico.

“De um sistema de explicações de tipo genético que faz homens e coisas nascerem biologicamente de deuses e forças divinas, como ocorre no mito, passa-se a buscar explicações nas próprias coisas, entre as quais passa a existir um laço de causalidade e constâncias de tipo geométrico […] Na visão que os mitos fornecem da realidade […] fenômenos naturais, astros, água, sol, terra, etc., são deuses cujos desígnios escapam aos homens; são, portanto, potências arbitrárias e até certo ponto inelutáveis”.

A idéia de uma arqué, que tem sentido amplo em grego, indo desde princípio, origem, até destino, porta uma estrutura de pensamento que a diferencia do modo de pensar anterior, mítico. Com Nietzsche, pode-se concluir que o logos da metafísica ocidental visa desde o princípio à dominação do mundo e de si. Se atentarmos para a estrutura de pensamento presente no nascimento da Filosofia, podemos dizer que seu logos engendrou, muitos anos depois, o conhecimento científico. Assim, a estrutura presente na idéia de átomo é mesma que temos, na ciência atual, com ideia de partículas. Ou seja, a consideração de que há um elemento mínimo na origem de tudo. A tabela periódica também pode ser considerada uma sofisticação da idéia filosófica da combinatória dos quatro elementos: ar, terra, fogo, água, da qual tanto tratou a filosofia eleática.

Portanto, em seu início, a Filosofia pode ser considerada como uma espécie de saber geral, omniabrangente. Um tal saber, hoje, haja vista os desenvolvimentos da ciência, é impossível de ser atingido pelo filósofo.

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