Por Joviano Caiado…
A Antístenes de Atenas, discípulo de Sócrates, é atribuída a fundação da escola clássica grega do cinismo.
Dizem que a palavra deriva do Ginásio Cinosarge, local onde Antístenes teria edificado sua Escola. Outros afirmam que ela deriva da palavra grega kŷőn, kynós: cães – ou viver como os animais.
Segundo consta a idéia para desenvolver a teoria cínica teria sido de Sócrates, que ao passar certa vez pelo mercado de Atenas teria constatado:
– Vejam de quantas coisas precisa o Ateniense para viver!
Antístenes ouviu as palavras do mestre e passou a vida a pensar.
Aqui – parênteses! – eu acho que na Grécia clássica havia um monte de gente sem qualquer conhecimento de qualquer coisa da vida. Qualquer coisa dita por pessoas com comportamento estranho passava a ser objeto de investigação e algo a ser pensado.
Ou melhor, comportamento estranho era sinal de algum tipo de genialidade. Lembrem-se que Sócrates era um andarilho, miserável, maltrapilho e, como já fiz referência em outra matéria, com alguns sinais de algum tipo de doença mental.
Pois bem! Antístenes passou a desenvolver a idéia que para alcançar a virtude moral, a felicidade plena, seria necessário dispensar todo o supérfluo, pois bastava ao homem viver com o que a natureza lhe oferecia, assim como viviam os animais.
Todos já perceberam que todas as religiões de todos os povos partem desse princípio: Despir-se das coisas terrenas. Alguns adeptos de algumas filosofias, que não chegam a ser uma religião, assim também pensavam. Como exemplo temos os hippies dos anos 60/70.
Um aluno de Antístenes – Diógenes de Sínope – um dos maiores malucos da história da filosofia – que eu acho que apresenta, assim como Sócrates, sinais de doença mental – levou a teoria ao seu limite maior: passou a viver como indigente.
Morava em um barril e se alimentava com o que as pessoas lhe davam. Vivia maltrapilho, sujo e provavelmente cheio de doenças.
Era visto constantemente se masturbando em público e quando lhe reprovavam o comportamento perguntava que mal havia em passar a mão sobre a barriga
Dizem que Alexandre, o Grande, um dia se aproximou dele e perguntou se precisava de alguma coisa. Diógenes disse-lhe que precisava que ele se afastasse para o lado porque estava encobrindo o sol que o aquecia.
Só dava maluco na época. A tal frase – desejo apenas que te afastes de meu sol – passou a ser objeto de profundos estudos e exemplo maior da teoria cínica, o desprendimento de coisas supérfluas.
Sócrates, Antístenes e Diógenes não deixaram qualquer coisa escrita.
Continuo achando que, cada um na sua época, era daquelas pessoas que perambulavam pelas cidades da Grécia, completamente doidos, assim como os profetas do oriente médio, os benzedores, adivinhos e pitonisas, até mesmo santos da igreja católica. Pessoas com estranhos comportamentos que acreditavam em mundos mágicos. As mitologias romana, grega, nórdica, e outras, estão cheias dessas figuras. Existiam deuses de todos os níveis e para todos os ambientes essenciais para a vida: ar, água, terra, alimento, guerra, paz, mar, rio, montanhas e florestas, até para o vinho!
A ignorância levava aos questionamentos básicos do pensamento humano: quem sou eu; o que é a felicidade; o que é a paz; o que é a bondade e a maldade; o que é a vida ou o que é a morte; existe vida após a morte; de onde viemos e para onde iremos; o céu e o inferno; os bons para cima e os maus para baixo, etc.
O ideal do cinismo é a autarquia.
Espantado? Pois é! autarquia era a condição ideal de auto-suficiência.
Na autarquia o homem tem o essencial para viver. Daí a definição de autarquia dos dias de hoje: serviço autônomo criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita própria, que executa atividades típicas da administração pública, mas com gestão administrativa e financeira descentralizada.
E o hipócrita? Ah! O hipócrita! O hipócrita é o duas caras. Isso mesmo. Os atores gregos usavam máscaras. Fingiam ser aquilo que não eram.
Nos dias de hoje o nosso amigo hipócrita está em todos os lugares. É aquele que deita pregação moral, mas no fundo é um canalha:
É, com raríssimas exceções, aquele político que fica publicamente indignado com a notícia de corrupção, mas apagados os holofotes e desligadas as câmeras, sai andando pesado e com as marcas de maços de dinheiro sob a calça, parecendo picado por inúmeros marimbondos.
Muitas vezes o cinismo deturpado como o conhecemos hoje, anda junto com a hipocrisia.
O hipócrita diz para todos que é um virtuoso, um exemplo de cidadão, excelente chefe de família e fiel marido, mas ao virar a esquina pega a amante e vai para o motel.
No flagrante, produção de sua mulher que invadiu o quarto do motel, ele diz com a maior cara de pau:
– Calma meu bem! Não é o que você está pensando! Ao sair do trabalho eu a vi atravessar a rua em frente ao meu carro. Ela caiu, passou mal e sem saber o que fazer eu a trouxe aqui para o motel para ela se refazer e poder ir para a casa.
A mulher responde:
– Além de hipócrita é um cínico… seu safado!
Lembra Diógenes de Sínope, que ao ser pego em flagrante se masturbando em público dizia que estava apenas passando a mão sobre a sua barriga?
Que cinismo!!!
E você, o que acha?
Dê sua opinião.
[]’s